Débora Rubin
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São Paulo – A comunidade de Helvécia é essencialmente negra. Mas o povoado desse distrito da cidade de Nova Viçosa, no extremo sul da Bahia, leva esse nome por conta de uma fazenda que um suíço tinha na região. ‘Helvetia’ é Suíça em latim. Reza a lenda que lá a abolição da escravatura tardou um ano para chegar, tão fim de mundo que era. Quando os escravos descobriram, expulsaram os senhores daquelas terras. O que talvez aqueles primeiros escravos libertos sequer imaginaram era o que um dia seus descendentes exportariam peças artesanais, típicas da comunidade, para a…Suíça.
Quem conta a história acima à ANBA é a designer Paula Dib, uma paulistana neta de sírios de 30 anos, cujo trabalho é detectar vocações, culturas e tradições escondidas nas periferias do país e das grandes cidades. Seu escritório, o Trans.Forma Design, fica em São Paulo. Mas seu trabalho se expande rumo à Bahia, ao Rio, a Pernambuco e para onde mais ela for solicitada. Paula costuma ser procurada por grandes empresas que buscam selos de responsabilidade social e que querem trabalhar com comunidades que vivem no entorno de suas fábricas.
É o caso da Suzano, a holding de papel e celulose, com a comunidade quilambola de Helvécia. O grupo tem uma fábrica na região e contratou a Trans.forma para fazer um diagnóstico dos potenciais daquela comunidade. “Primeiro fazemos um levantamento sobre a história daquele grupo, suas tradições, raízes, o tipo de trabalho que é desenvolvido, o material utilizado, em que espaço esse trabalho acontece, quais são os sentimentos e histórias que permeiam a vida das pessoas”, explica a designer. Depois, a designer vê o que pode ser aperfeiçoado, que tipos de materiais podem ser acrescentados e como dar um acabamento ideal.
Quando Paula chegou em Helvécia, há dois anos, havia uma produção aqui e acolá, tradições quiçá adormecidas pela distância das grandes capitais (fica a quase mil quilômetros de Salvador), quiçá pela falta de oportunidade. Hoje, há um grupo organizado, que se chama Arte Helvécia, que trabalha principalmente com lascas de madeira e sementes, e que oferece uma linha completa de produtos que vão de fruteiras a luminárias. O Arte Helvécia exporta para uma loja de decoaração na Suíça. Segundo Paula, há interessados na Inglaterra e na França.
O trabalho na vila "afro-suíça" do sul da Bahia está chegando ao fim – comunica Paula, que agora se prepara para diagnosticar uma tribo indígena de Pernambuco a pedido de um grupo alemão, seu mais novo cliente. Além de empresas, Paula é procurada por ONGs, prefeituras, associações de amigos, entre outros.
Idéia premiada
Quando estava no último ano da faculdade de design de produtos, Paula não sabia exatamente o que queria fazer. Mas sabia o que ela não queria. “Não tinha vontade de ir trabalhar em grandes empresas, criar novos objetos, não fazia sentido gerar mais bem de consumo. Queria aproveitar o que já existe.”
Para se inspirar, pegou uma mochila e foi dar uma volta pelo nordeste brasileiro. Em dois meses, percorreu cidades da Bahia, de Alagoas e do Rio Grande do Norte. A idéia era ver a variedade de técnicas, observar como artesãos adaptam os materiais a que têm o. “Foi uma viagem bem empírica”, recorda. Quando voltou para São Paulo, ou a trabalhar o uso de resíduos urbanos com comunidades da periferia da cidade. Aos poucos, seu trabalho começou a chamar a atenção. Em 2003, ela criou o Trans.forma Design.
No final do ano ado, Paula recebeu o Prêmio Jovem Designer Empreendedor do Ano, do British Council. Primeiro venceu seus concorrentes na etapa brasileira. Depois deixou para trás dez finalistas do mundo todo. Se a viagem à Inglaterra coroou seu trabalho, a agem por lá também rendeu frutos aos projetos que ela toca. Ela aproveitou a agem por Londres para expor os trabalhos e fotos da comunidade de Helvécia e de São José, outra cidade do sul da Bahia, com a qual ela trabalha. De lá surgiram os contatos para exportação.
Se pela profissão ela se aprofunda cada vez mais nas raízes brasileiras, com as árabes ela não mantém muito contato. “Desde que minha avó morreu, muito da tradição se perdeu. Ela era a matriarca, era quem falava árabe com os filhos e mantinha a família unida”, explica. “Mas, de alguma forma, sempre fica alguma coisa lá dentro da gente.”
Saiba mais:
www.transformadesign.com.br