Débora Rubin
São Paulo – Fazer roupas, em São João Nepomuceno, cidade mineira da Zona da Mata, é quase uma tradição. O pólo de confecções local, que inclui mais quatro municípios vizinhos, existe desde os anos 60. Há três anos, no entanto, os pequenos empresários locais decidiram que não queriam mais simplesmente "fazer roupas". Queriam lançar moda.
"Chegou um momento em que não dava para competir com a China e Índia, que fazem roupas em escala. Mais que produzir, queríamos ter identidade própria", explica o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno (Sindvest) e também dono de confecção, José Roberto Schincariol.
A iniciativa deu tão certo que, em abril, a cidade promoveu seu primeiro desfile, o Fashion Mix. O evento marcou a nova fase do pólo. Foram 160 modelos de roupas apresentados a compradores e lojistas. "Foi um desfile tímido para ver como era. O da coleção primavera/verão, em setembro, será maior. E no ano que vem, se possível, quero fazê-lo em São Paulo", sonha grande Schinchariol.
A ambição do empresário tem razão de ser. Desde 2003, os empreendedores da região fazem parte do projeto "Confecção na Região de São João Nepomuceno", um plano de ação elaborado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A idéia é capacitar empresários e funcionários com cursos que vão desde o planejamento de marketing até a logística empresarial.
Cursos de corte, costura, moda e design também estão na pauta do Sebrae. O objetivo é fazer a região aumentar a produção mensal em 11% até o final de 2007 e também expandir a clientela. Atualmente, são produzidas em média 900 mil por mês. O pólo emprega cerca de 10 mil pessoas e representa 85% do PIB local.
Qualidade
Crescer sim, mas com qualidade. Para isso, os produtores de moda da Zona da Mata foram ouvir quem entende do assunto. Uma das iniciativas mais proveitosas do plano de ação do Sebrae foi a parceria com o estilista mineiro Ronaldo Fraga. Ele deu uma oficina de 400 horas para 20 das 300 confecções locais.
O método de Fraga consistia em levar as modelistas para dar uma volta pela cidade munidas de máquinas fotográficas. Uma construção antiga, uma igreja, um pássaro – qualquer idéia poderia servir de base para uma coleção. "Pedi a ele que nos ajudasse a transformar temas em roupas", resume Schincariol.
Fraga fez um trabalho similar em Salinas, no Vale do Jequitinhonha. Com as cooperativas de lá, ele ajudou a criar a coleção "A Cara do Sertão", hoje exportada para a Espanha.
Mercado europeu
A exportação também está na pauta do pólo de São João Nepomuceno. Hoje, o principal comprador internacional é a espanhola Zara, mas o volume das vendas internacionais na região ainda é baixo: das 900 mil peças produzidas por mês, apenas 60 mil vão para fora. Nem 5% das confecções exportam, e o câmbio atual também tem desanimado os empreendedores.
De qualquer forma, o projeto do Sebrae prevê que, após 2007, o pólo estará mais sólido e com maior capacidade para encarar o mercado exterior. "Ainda estamos capacitando o pessoal para que daqui há um ano, um ano e meio, as confecções estejam prontas para exportar", diz Eduardo Dilly, técnico do Sebrae responsável pela região.
Histórico
A história do pólo só começou porque, nos anos 60, uma enorme fábrica têxtil faliu deixando os funcionários na mão. Como a fábrica empregava quase toda a cidade, que hoje tem 28 mil habitantes, as pessoas começaram a fazer o que sabiam: roupas. Aos poucos, foram aparecendo as confecções.
Nos anos 90, um novo susto. Com a quebra da Mesbla, a grande compradora das fábricas locais, os confeccionistas ficaram na mão. "Até o turismo de moda dasaqueceu naquela época", relembra Eduardo Dilly. Após o trauma, ficou a lição: os empreendedores não querem depender somente de grandes magazines.
"Produzir em larga escala para essas lojas é fácil. O desafio é fazer algo de qualidade, com bom preço. Hoje, nossas roupas são muito melhores que há dez anos", diz Schincariol. Além disso, a pequena cidade de São João quer fazer barulho e entrar no calendário da moda do Brasil. O Fashion Mix, prometem os empresários, é apenas o começo.
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